Especial NAyA 2001 (version en linea del cdrom)

A GÊNESE DAS SOCIEDADES AMAZÔNICAS.

Marcos Pereira Magalhães
Museu Paraense Emílio Goeldi

RESUMO

A evolução social humana tem se desenvolvido durante uma longa duração de tempo, na qual experiências práticas e sensíveis vêm gerando expressões culturais diversas, no espaço próprio das suas manifestações originais. Sendo assim, os processos de transformação material, cultural e político das sociedades amazônicas, antes da conquista européia, foram os frutos da reconstrução sucessiva de suas experiências precedentes. Mas diferentemente do que ocorre na maior parte das interpretações sobre a evolução das culturas amazônicas, a sua natureza só pode ser explicada pela análise dos estágios elementares da organização social nativa. Ou seja, os estágios iniciais ou finais das relações humanas não são lineares e nem podem ser generalizados, porque as experiências  que se sucedem são incessantemente reconstruídas pelas gerações, segundo o progresso original de suas transformações. As relações elementares nativas, consequentemente, desempenham papel relevante na seqüência da reorganização cultural e social posterior. Portanto, a explicação para as particularidades das sociedades amazônicas só pode ser encontrada na gênese da história delas

Amazon Societies Genesis and Archaeological Patrimony Preservation

The human social evolution has been develop for a long time, in which practices and sensitives experiences been produces various cultural expressions in proper space of your original manifestations. In such case, before europe conquest the amazon societies process of material, cultural and politic transformations were fruits of successive reconstructions of yours preceding experiences. But differently what happens in mostly interpretations about cultures amazon evolution, your nature only be explains for elementares stages analises from native social organization. Or be it, initial or final stages of human relacionship can’t be linears and can’t be generalizate because experiences are constantly reconstructed for generations according to original progress of yours transformations. Consequently, elementares natives relacionships have relevant paper in posterior cutural and social reorganization’s sequence. Thence it follows that explications for amazon societies particularities only be to meet in your genesis.

INTRODUÇÃO:

                A questão a ser colocada tratará do modo como a evolução das antigas sociedades que se desenvolveram na Amazônia antes do contato, tem sido interpretada. Nela discutiremos os conceitos teóricos com os quais a formação histórica da evolução sociocultural do homem antigo amazônico é apresentada não só à nós pesquisadores, mas também ao público em geral. Esses conceitos se agrupam em duas categorias: uma de ordem cronológica e outra de ordem cultural. Como resultado destas perspectivas temos uma outra delas derivada, cuja interpretação envolve tanto aspectos cronológicos, quanto aspectos culturais. Esta última é a mais utilizada nas teorias já que, de qualquer modo, na interpretação da história o cronológico e o cultural dificilmente se apresentam puros. Entretanto, o objetivo aqui será mostrar que os conceitos empregados não satisfazem a correta interpretação da história, já que vem sendo utilizados como instrumentos paliativos frente a uma realidade temporal, em princípio, desconhecida, que é o passado. A divisão cronológica da evolução sociocultural do homem na Amazônia é, a grosso modo, um artifício com muito pouca base nos acontecimentos reais. Já a divisão cultural  é outro artifício cuja base, o agrupamento dos semelhantes, implica em várias armadilhas que ignoram especificidades e em alguns casos, até mesmo o tempo. 

A importância do patrimônio arqueológico é relativo à valoração que a ciência dá ao passado. Assim, a vontade de conhecer e o esforço em preservar dependem da importância que o passado tem para a transformação do presente. Se a ciência tem com o passado histórico apenas uma preocupação formal, interessando-se apenas no saber pelo saber, então ela não gera expectativa suficiente para despertar uma curiosidade para além dos artifícios e por isto não é capaz de gerar atitudes espontâneas de compreensão do antigo. Porque, simplesmente, uma vez longe de influenciar o presente e assim trazer novas possibilidades para o futuro, o estudo do passado deixa de ter importância para o mundo atual, tirando do senso comum qualquer compromisso com a história. Por conta disto, neste ano que se comemoram os 500 anos "da descoberta do Brasil" pelos europeus, qual a importância que as sociedades indígenas anteriores à conquista têm para nós hoje, uma vez que o estudo fundamental ignora solenemente o que havia antes e o ensino superior apenas arranha o assunto, e assim mesmo, somente em alguns poucos cursos das Ciências Humanas ? Qual a importância que as culturas antigas da Amazônia tem para nós hoje, se o ensino investe mais tempo para o conhecimento do passado da Antigüidade Clássica e mais ainda para o período medieval europeu? A preservação de prédios de fabulosas arquiteturas européias ou de influência européia como a colonial, é conseguida pelo apreço à importância dada às culturas que deram origem a elas. Entretanto, a preservação, ou melhor, o cuidado com as urnas funerárias marajoaras, em princípio, teve por motivação um nacionalismo sem substância e o valor econômico que as mesmas possuem no mercado clandestino de peças arqueológicas. Como modificar este quadro e motivar o senso comum a valorizar o nosso passado mais recuado, senão mostrando, concretamente, a importância dele para a construção do nosso futuro?

GÊNESE E HISTÓRIA DAS SOCIEDADES HUMANAS NA AMAZÔNIA ANTIGA.

Em primeiro lugar devo esclarecer o que aqui vai ser entendido por gênese. Quando falamos em gênese logo pensamos em nascimento. Porém, em arqueologia, não existe gênese absoluta, isto é, um início definitivo, antes do qual nada mais existiria. Afirmar tal vazio é o mesmo que acreditar em geração expontânea. Não sendo absoluta, toda gênese possui um passado que criou as condições necessárias para que, o que nasceu, viesse a existir. Entretanto, e é aí que torna o estudo da gênese dos acontecimentos históricos interessante, a cronologia de geração e desenvolvimento dos fatos não segue, necessariamente, uma linha retilínea. Novos acontecimentos podem representar uma ruptura profunda com a história passada, de modo que entre elas não é possível reconhecer um elo de ligação seqüencial. Além disto, a pesquisa arqueológica não garante de antemão, que o objeto a ser estudado represente um ponto de ruptura. Na verdade, a pesquisa arqueológica sempre aborda objetos compreendidos no meio de um acontecimento de longa duração. Ou seja, a própria gênese dos acontecimentos implica numa duração que é o seu nascimento e também o seu desenvolvimento. E, neste processo, a evolução histórica implica numa incessante reconstrução dos objetos, que apesar de poderem preservar as suas características morfológicas, muito dificilmente preservam o seu sentido primeiro. É a mudança ou as mudanças de sentido que às vezes acabam por alterar a própria natureza do objeto [1] .

Portanto, a leitura cronológica da história, especialmente daqueles acontecimentos de longa duração, é muito difícil e não deveria ser feita com base em linhas amarradas em pontos seqüenciais de tempo. Porém, a leitura da história ainda está muito vinculada ao tempo linear, o que gera seqüências muitas vezes absurdas e regularmente artificiais, daí originando muita confusão. Isto acontece porque a preocupação não é com a gênese, mas com o evento preciso que deu início ao acontecimento. Ora, vimos que não há começo absoluto, que os acontecimentos só podem ser observados na duração, logo, toda divisão do tempo histórico baseada na origem primeira, é passível de erro.

Podemos observar isto na seqüência cronológica estabelecida para explicar a evolução humana na Amazônia, subdividida como paleoíndia, arcaica, formativa e complexa [2] e tratada como se a passagem de uma fase para a outra fosse uma condição natural dessa evolução (FIEDEL, 1987, SCHOBINGER, 1988). O princípio estaria no paleoíndio. Acontece que este termo foi originalmente formulado para conceituar sociedades humanas pleistocênicas que viviam da caça especializada em ambientes frios e secos. Entretanto este mesmo termo é usado para conceituar populações pleistocênicas que viviam da caça generalizada em ambientes quentes e úmidos. Na Amazônia, a diferença entre o paleoíndio e o arcaico parece ocorrer apenas pela presença da cerâmica na cultura material deste último, mas uma observação mais atenta mostra que a diferença está apenas na maior antigüidade do primeiro. Na verdade, parece tratar-se apenas na maior ou menor quantidade dos vestígios, associados às datações obtidas. Porém, mesmo a cerâmica, que inclusive um dia foi usada como um marcador para a identificação do advento da agricultura, hoje já desvinculada da domesticação de plantas, tem apresentado idades cada vez mais recuadas. Recentemente um fragmento encontrado num sítio localizado na Serra da Capivara (PI) foi datada em 8.900 anos AP (PESSIS, 1999).

Já o formativo, que tem por fundamento, principalmente a presença de técnicas de cultivo, é abalado pelo fato da experimentação agrícola na Amazônia ser uma atividade tão antiga quanto a própria coleta de sementes e raízes. Enfim, hoje, a diferença entre o paleoíndio, o arcaico o formativo e o complexo é apenas quantitativa: há maior presença de cerâmica no arcaico do que no paleoíndio; há maior presença de restos vegetais e pedras polidas no formativo do que nos anteriores e há maior concentração populacional e maior sedentarização no complexo do que até então.

Na intenção de inserir o homem antigo amazônico na evolução humana mundial, buscaram-se elos de ligação com a ordem artificialmente estabelecida a partir de modelos do hemisfério norte ocidental. Com isto o paleoíndio na Amazônia seria apenas o marco da presença do paleoíndio norte-americano na nova realidade da floresta úmida. Com o que se sabe hoje sobre a evolução humana nas florestas úmidas, e sobre a antigüidade da presença humana na América do Sul, esta hipótese está completamente superada. Por outro lado, o estudo de esqueletos encontrados no Brasil e relacionados à populações pleistocênicas, têm mostrado que antes mesmo da chegada da população de fenótipo mongolóide, uma outra de fenótipo negróide a teria antecedido (NEVES, 1993). Caso se confirme, isto pode querer dizer que de fato houve uma mudança significativa da passagem do Pleistoceno para o Holoceno, quando uma população com etnia e hábitos bastante particulares foi substituída por outra com etnia e hábitos distintos, mas já integrada ao clima quente e úmido. Ou seja, as populações que se inteiraram com a floresta é a de origem mongoloide que por sua vez são os ancestrais das populações indígenas. Deste modo chamá-los de paleoíndios é no mínimo anacrônico, visto que as populações pleistocênicas típicas, muito provavelmente, não foram os ancestrais das populações indígenas inteiradas à floresta tropical. Fenômeno semelhante ocorreu quando milhares de anos depois, um novo contigente populacional representado por europeus e africanos, inaugura um outro processo histórico, dando origem à Civilização Brasileira.

Quanto à divisão da evolução sociocultural do homem através dos objetos materiais, são artifícios que aproximam por semelhança o mundo formal dos utensílios, seqüencialmente distribuídos no espaço e no tempo. O problema aqui é que consideram mudança apenas quando há alteração de forma, ignorando completamente as especificidades resultantes das condições locais, étnicas e históricas. Para diminuir o impasse lançam mão da divisão cronológica linear definida por datações absolutas, que tem por objetivo organizar os objetos numa seqüência evolutiva. Entretanto, regularmente projetam essa evolução formal sobre os fatos que se sucedem, envolvendo todas as manifestações socioculturais, como se todas as sociedades que apresentam utensílios com formas semelhantes respondessem pelos mesmos hábitos sociais, costumes culturais e tivessem com eles as mesmas relações.

Assim são organizados os vestígios atribuídos ao formativo e ao complexo. Neles estão encaixadas tradições culturais que se expandem pelo espaço e pelo tempo, independentes da etnia e do sentido histórico e psicológico que a sociedade em particular, aí inserida, pudesse ter. Por outro lado, manifestações culturais das mesmas sociedades conformadas dentro de uma tradição, quando se manifestam em locais e com utensílios diferentes, não só são excluídas como muitas vezes formam uma outra tradição. Assim, estações de caça, aldeias periféricas, oficinas líticas, cemitérios e locais de rituais, que podem ser o resultado das atividades de uma mesma sociedade, são regularmente seccionadas em tradições e até em períodos históricos diferentes. Infelizmente este quadro, apesar da atual mudança de perspectiva na arqueologia, continua tendo muita influência.

Se por um lado é difícil identificar o universo das atividades práticas de uma sociedade, por outro, em termos macro-cósmicos, é perfeitamente possível identificar o período no qual diversas sociedades, independentes do nível de organização social e do aparato material particular que tenham, compreendem um processo civilizador de longa duração. Deste modo, a gênese das sociedades antigas da Amazônia pode ser identificada quando constatamos a integração delas à floresta tropical. O processo civilizador na Amazônia teve início quando o homem, provavelmente de origem mongolóide, interage com a floresta úmida, produzindo práticas e costumes sociais específicos, ao longo de muitos séculos de exploração e manipulação dos recursos naturais. Ora, como este processo civilizador envolve grupos sociais distintos, em tempos e espaços diferentes, logo a evolução foi heterogênea, não só no espaço, como no tempo também. Deste modo, o início deste acontecimento pode ter partido de grupos humanos que aqui chegaram ainda no Pleistoceno, mas já em pleno Holoceno, muitos grupos poderiam estar apenas engatinhando.

A este período vamos chamar de Tropical, que envolve experiências práticas e sensíveis ainda não perfeitamente dominadas pela experiência cognitiva, mas que de longe supera o período anterior, onde as experiências limitavam-se à satisfação das necessidades, tal como teria sido vivenciado pelas populações pleistocênicas, não mongolóides. Na verdade esse processo civilizador rompe radicalmente com as tradições anteriores e aponta o caminho para o sucesso definitivo das atividades humanas junto à floresta tropical. Ao se inteirar com a floresta o homem co-evolui com a mesma e garante a continuidade da evolução de ambos. Assim, quando finalmente as experiências práticas e sensíveis do homem tropical são dominadas pela experiência cognitiva, através da institucionalização de hábitos e costumes muitos antigos, agora reorganizados em relações tribais com agricultura e relações políticas bem definidas, surge um outro período histórico, com um outro e mais sofisticado processo civilizador, que chamo de Cultura Neotropical (Magalhães, 1993; 1994).

A gênese das sociedades antigas da Amazônia, assim, foi na floresta tropical e teve início com populações de origem mongolóides talvez há mais de 12.000 anos atrás. Ela constituiu um acontecimento histórico de longa duração, cujo auge foi alcançado quando já suficientemente conhecedores das riquezas e dos limites da floresta, os quais eram capazes de superar através de manipulações ecossistêmicas, fazem florescer sociedades muito complexas, com relações interétnicas e políticas, talvez únicas no mundo. É a chegada de um novo contigente populacional, com hábitos, costumes e práticas socioculturais completamente inadequados à floresta tropical, mas com interesses comerciais e métodos e artifícios poderosos, capazes de substituir o natural pelo artificial, que interrompe a evolução da civilização neotropical.

Foi a conquista européia que, ao interromper a evolução do homem neotropical, dá início a um outro processo o qual vai definir a Civilização Brasileira (ribeiro, 1996). Herdeiros dos neotropicais, mas também da civilização européia e de tradições africanas, o homem brasileiro que agora comemora 500 anos, não de nascimento, mas de gestação - porque ele ainda está sendo construído - vem constituindo uma civilização pelas características únicas que tem. E ainda que existam autores que insistem em nos chamar de ocidentais ou latinos americanos e às vezes até de os "ocidentais do Sul", fazemos parte de uma experiência civilizadora que devemos compreender e investir. E para o sucesso da evolução da Civilização Brasileira devemos conhecer e compreender melhor os povos que, bem antes de nós, construíram uma civilização com muitos milhares de anos de experiência e sucesso na mesma região tropical que habitamos.

A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO.

                Diante da exposição acima, a atenção insuficiente dada a preservação do patrimônio arqueológico pode ser explicada pelo pouco conhecimento que se tem do nosso passado mais recuado e, principalmente, pelo pouco valor que se dá a ele. Tomemos como exemplo os indígenas atuais, cuja situação socioeconômica, os deixa na escala mais baixa da nossa pirâmide social. Como esperar que o senso comum valorize o produto de seus antepassados indígenas, se os seus reminescentes são tratados como seres a margem das leis e são confinados em reservas como se fosse um zoológico de gente minado de missionários, madeireiras e prostitutas? Se tivessem consciência de que esta população faz parte da Civilização Brasileira e não mais das tradições indígenas antigas, dos quais são apenas uns dos herdeiros, então poderiam compreender que os problemas deles, são problemas inerentes à sociedade brasileira.

O senso comum não é a fonte de conhecimento mais adequada para explicar a história e menos ainda a "pré-história". Se as noções do senso comum fossem verdadeiras não precisaríamos de arqueologia. O propósito da arqueologia é retirar as camadas de aparência que encobrem a história do passado e revelar a sua natureza subjacente. Aparência e essência não são a mesma coisa, por isto há a necessidade de ciência. Infelizmente há uma carência muito grande de publicações de divulgação científica que relate os avanços da arqueologia e assim oriente o senso comum. Revistas como Superinteressante são extremamente superficiais e sensacionalistas, e a Ciência Hoje não tem qualquer apelo popular. De modo geral os nossos jornalistas são despreparados e não entendem nada de arqueologia. Por outro lado, nossas Instituições de pesquisa só conseguem fazer o mínimo, para a informação científica chegar ao grande público.

                A verdade é que o passado indígena além de ter apresentado um nível sociocultural muito diferente dos indígenas modernos, apresentava mais originalidade não só nas relações sociais, como principalmente nas relações geopolíticas. Compreende-se assim, que a falta de informação e a ignorância aliada ao pouco valor que se dá ao nosso passado mais recuado, projeta um problema exclusivamente atual (já que o desequilíbrio social e econômico na nação brasileira é reconhecido até pelas elites dominantes), sobre todos os acontecimentos que aqui se desenvolveram antes da conquista européia.

                Ora, antes de mais nada é preciso mostrar que o Brasil vem desenvolvendo apenas a mais nova e imatura das civilizações que aqui tiveram lugar. Que antes da Civilização Brasileira, duas outras floresceram e foram o produto do sucesso do homem junto à nossa natureza tropical durante milhares de anos. As soluções encontradas por essas civilizações, particularmente em relação à manipulação dos recursos de floresta, não só, em muitos casos, foram únicas ou pioneiras no mundo, como representam avanços para a evolução humana, os quais devemos conhecer e otimizar. Para tanto, deve-se fazer um esforço didático muito grande, para mostrarmos o valor que o passado tem para a construção do nosso futuro enquanto civilização original. É preciso fazer com que os resultados das pesquisas saiam dos artigos científicos e ganhem o público leigo. Só assim será  possível impedir que sítios arqueológicos sejam destruídos pela ignorância ou pelo baixo valor histórico dado a eles.

                A conclusão então, é que, antes de mais nada, deve-se dar crédito às novas teorias sobre a ocupação pré-histórica da Amazônia, como essa que aqui foi rapidamente apresentada. A teoria dominante, fruto do paradigma antropo-evolucionista que começou a ser elaborado ainda no final da primeira metade do século XX, já apresenta sinais de esgotamento. Isto pode ser percebido através das contradições apontadas neste texto. O evolucionismo não é a única (ou talvez nem seja capaz da) explicação possível para entendermos as inteirações evolucionárias das sociedades humanas. Há outras explicações mais plausíveis, mais factíveis e mais próximas da realidade histórica que estudamos. Esta observação não restringe-se a uma simples mudança ou re-conceituação de termos. Trata-se, na verdade, de mudança de perspectiva (da antropologia evolucionista para a história evolucionária), de mudança na visão de mundo, na visão de natureza; de mudança na nossa auto-imagem.

 Por outro lado, a atual consciência que se tem sobre a importância do nosso patrimônio arqueológico é proporcional à importância que o senso comum tem do seu passado. Portanto é preciso apoiar e incentivar iniciativas de divulgação das pesquisas arqueológicas. É preciso apoiar projetos de divulgação científicas sérias. É preciso levar o conhecimento produzido ao ensino fundamental, torná-lo básico nas Ciências Humanas. É preciso, enfim, uma política de preservação mais ativa e atenta, que impeça que empresas mal-intencionadas boicotem a pesquisa, que leigos endinheirados remexam impunemente sítios arqueológicos.

Referências Bibliográficas

FIEDEL, S.J. Prehistory of the Americas. Cambridge, Cambridge University Press. 1987.

MAGALHÃES, Marcos P. O tempo arqueológico. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi. Coleção Eduardo Galvão, 1993.

             Arqueologia de Carajás. Rio de janeiro: Cia Vale do Rio Doce, 1994

NEVES, W. A, MEYER, D. , PUCCIARELLI, H.M. The contrbuition of early South and North American skeletal remains to the understanding of the peopling of the Americas. Am. J. Phys. Anthrpol. Suppl. 1993, 16:150-151.

PESSÍS, Anne-Merie. Pré-história da Região do Parque Nacional Serra da Capivara. In: TENÓRIO, M. Cristina. Pré-história da Terra Brasilis. Rio de janeiro, Ed. UFRJ, 1999

RIBEIRO, Darcy O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

SCHOBINGER, J. Prehistoria de Sudamerica- culturas preceramicas. Madri, Alianza Editorial, 1988.


NOTAS

[1] Esta observação também é válida para a mudança na natureza do objeto científico.

[2] Embora nunca tenha sido formalizada como conceito, a fase decadente está implícita nessa cronologia porque refere-se ao período de contato, que teria levado as sociedades nativas complexas à bancarrota. Entretanto, as sociedades nativas não estavam, necessariamente, em decadência quando o europeu chegou. Muito pelo contrário, há evidências que muitas delas estavam em plena expansão. O que houve foi um profundo corte, cultural, histórico, cosmológico e sociológico, que antes de representar decadência, representou o florescimento de uma outra duração histórica.


Buscar en esta seccion :