ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO CULTURAL NA GALÍCIA.
A REDE GALEGA DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO
ROSÂNGELA CUSTODIO CORTEZ THOMAZ *
Resumo: Este artigo tem o propósito de apresentar dados preliminares de nossa pesquisa de pós-doutoramento que está sendo desenvolvida junto a Universidade de Santiago de Compostela - ES, cujo objetivo é analisar as ações e os programas que são desenvolvidos no meio rural galego sobre a revalorização do patrimônio arqueológico utilizada como estratégia para promover o turismo cultural. A necessidade de consolidação e revalorização dos locais visitáveis na Galicia estabeleceu um novo modelo para a difusão deste patrimônio. A partir de uma reflexão crítica sobre as dificuldades em recuperar e expor ao público os jazimentos arqueológicos foi proposto o plano de implantação da Rede Galega do Patrimônio Arqueológico (RGPA) em 2001, elaborado pelo Serviço de Arqueologia da Direção Geral do Patrimônio Cultural e assumido como um programa ambicioso pelo Conselho de Cultura, Comunicação Social e Turismo da Junta da Galícia.
Palavras-chave: patrimônio arqueológico, turismo cultural, revalorização, RGPA, .
Abstract: This article has the intention to present given preliminary of our research of post graduation that he is being developed together the University of Santiago de Compostela - ES, whose objective is to analyze the actions and the programs that are developed in the Galician agricultural way on the used revalorization it archaeological patrimony as strategy to promote the tourism cultural. The necessity of consolidation and revalorization of the places you visited in the Galicia established a new model for the diffusion of this patrimony. From a critical reflection on the difficulties in recouping and displaying to the public the archaeological deposit was considered the plan of implantation of the Galician Net of Archaeological Patrimony (RGPA) in 2001, elaborated for the Service of Archaeology of the General Direction of the Cultural and assumed Patrimony as an ambitious program for the Advice of Culture, Social Communication and Tourism of the Xunta of Galicia.
Keywords: archaeological patrimony, cultural tourism, revalorization, RGPA
Introdução
Ainda que não seja o único fator a determinar a atratividade geral de uma região turística, a cultura é muito rica e diversa. Os elementos da cultura de uma sociedade é um reflexo complexo da forma como seu povo vive, trabalha e se diverte.
Desde finais dos anos setenta se reproduz na Europa e América toda uma série de felizes acontecimentos de massa como: festas, inaugurações, comemorações, aniversários, que celebram o passado e que podemos associar ao advento de uma "nova" preocupação pelo patrimônio cultural dos povos. A título ilustrativo podem ser citados alguns dos mais significativos destes fatos, procedentes de países distintos, como: - bicentenário dos Estados Unidos, em 1976; - em finais de 1979 o governo francês inaugura com grande solenidade o Ano do Patrimônio; - em 1988, o bicentenário do nascimento da Austrália, desencadeando uma curiosidade em descobrir o passado daquele continente solitário; no ano de 1989, comemorou-se 1000 anos do nascimento político da Catalunha, entre outros exemplos (BALLART,1997).
Através destas manifestações mais significativas, deste boom do patrimônio das últimas décadas flui uma corrente social poderosa que valora a recuperação do passado, porque sente necessidade dele. Neste sentido a preocupação contemporânea por conservar o legado do passado, aparece como um fenômeno geral dentro das sociedades modernas, complexo e duradouro, que não para de crescer durante as últimas décadas.
Segundo Reis (2003, p. 47), o turismo cultural deve ser considerado "como uma atividade em que o deslocamento ocorre para lugares em que a motivação é à busca do conhecimento, da interação, da informação, da curiosidade cultural, dos costumes, da tradição e da identidade. Seus fundamentos são o elo entre passado e presente, (...) e representa a possibilidade da revitalização do patrimônio, de revigoramento das tradições, da redescoberta de comportamentos que foram suplantados pelo mundo moderno e da ressignificação da cultura".
A utilização de recursos culturais como atrativos para o turismo é uma atividade antiga e mundialmente reconhecida, como por exemplo, na Espanha cuja diversidade de recursos patrimoniais declarados tem crescido muito nos últimos anos, destacando-se principalmente as zonas arqueológicas. Cujo, esforço para melhorar o uso e a gestão turística tem sido feita através da criação de equipamentos, melhoras nos acessos do público, planos de sinalização, a capacitação de serviços de guias especializados, publicação de materiais informativos, planejamento para a implantação de projetos que contemplem a preservação do patrimônio e a participação da comunidade local, entre outros.
Na atualidade, existe na Espanha um setor de público cada vez mais numeroso que, descontente com a oferta turística clássica, centrada no binômio de sol e praia, demanda o acesso a zonas geográficas menos massificadas e que contenha elementos importantes do patrimônio natural e cultural, que lhes permitam desfrutar da prática de atividades ao ar livre (BURILLO et al. 1992, p. 63-4; CALS e RIERA 1988, p.74).
Os fatores que tem contribuído a geração desta nova demanda são múltiplos e de natureza diversa, podemos destacar entre os mais importantes:
1 - O aumento do tempo de ócio e férias, sobretudo o de fim de semana, que na atualidade é sensivelmente superior ao dos anos 60 70;
2 - O incremento do nível educativo da população, o que gera uma demanda de maior contato, conhecimento e desfrute da cultura em geral;
3 - A insatisfação com a oferta turística tradicional provocada sobre tudo pela saturação de público e a degradação ambiental das clássicas zonas de férias;
4 - A maior mobilidade da população favorecida pela melhoria das comunicações e dos meios de transporte;
5 - A busca de um maior contato com a natureza por uma sociedade que quanto mais se desenvolve mais se afasta dela;
6 - O incremento do consumo;
7 - A sensibilização do público, ao som das modas ecológicas, verdes e light , respeito à problemática da conservação meio ambiental e patrimonial.
A ocorrência de todos estes fatores nos países desenvolvidos do ocidente europeu tem contribuído para criar novas formas de ócio que, compartilhando uma filosofia comum, permitem desenvolver atividades compatíveis com a natureza e integradas à cultura dos lugares sobre os quais se desenvolvem e oferecem múltiplas possibilidades para investir no tempo livre.
O passado é cada vez mais tema da atualidade. Os vestígios que se dispõem ao público são cada vez mais atrativos, sendo que a viagem, a visita, caracteriza um dos contextos mais habituais de acesso ao passado e seus restos materiais. E também, o turismo é uma atividade que em menos de um século se transformou, necessitando cada vez mais de atrações que permitam suprir o tempo do ócio, sendo que o patrimônio arqueológico é uma delas.
Os fatores que alimentam o desenvolvimento dos novos modelos turísticos (turismo rural e cultural em geral) são os que promovem a aproximação do público ao passado e a arqueologia. O patrimônio arqueológico e cultural de uma região serve como recurso para instrumentalizar o desenvolvimento comunitário, pois a partir dele pode fomentar-se a autovaloração e coesão da comunidade (de suas tradições e valores) que por sua vez serve como desenvolvimento econômico através de sua utilização como atrativo turístico.
Na Espanha, mais especificamente na Galícia, há uma notável preocupação em analisar a problemática do patrimônio Histórico e Cultural sob a perspectiva de seu uso, seu valor, sua rentabilização. E esse interesse por sua utilização, afortunadamente vai além do campo da História, ou da Arte, ou da Arquitetura, tradicionalmente responsáveis pelo estudo do patrimônio . Esta é uma das características que fundamenta e justifica o interesse em analisar esta região da Europa e poder com o conhecimento acumulado transpor futuramente ao cenário brasileiro.
O Turismo Cultural em Galícia
O modelo inicial e desordenado fruto de um complexo elenco de fatores do passado contrasta com a numerosa e variada quantidade de recursos susceptíveis de valorização turística com que conta a Galícia. A comprovação deste feito, ao calor de uma maior pressão da demanda e de mudanças na estrutura produtiva em setores chaves da economia galega, provocou na última década o desenvolvimento de iniciativas de prestação de serviços turísticos, que começam a explorar recursos que até esse então não haviam sido explorados. Neste processo, tem uma importância chave o apoio público através de iniciativas concretas em instrumentos financeiros (Programas LEADER, PRODER, subvenções de capital, empréstimos subvencionados), estratégias de ordenação e promoção comarcal (Plano de Desenvolvimento Comarcal de Galícia), adequação do patrimônio histórico e cultural, e ações de comercialização do destino Galícia, assim como de acontecimentos desenvolvidos no seu território (Ano Jacobeo, Capital Européia da Cultura). O resultado é uma transformação ainda em curso com muito a ser explorado e ações a serem implementadas impulsionados por um incremento da chegada de visitantes.
A historia de Galícia e de Santiago de Compostela como centro de peregrinação, gerou de forma tendencial um modelo turístico associado á realização do caminho de Santiago e a celebração do Ano Santo. Uma adequada política de promoção, associada a uma oferta cultural de qualidade, gerou um produto único com uma imagem consolidada de intensa capacidade de atração de demanda, como demonstram os dados do último ano Jacobeo - o crescimento no número de viajantes incrementou-se com respeito ao ano anterior.
O turismo está já consolidado como um dos principais setores produtivos de Galícia tanto a nível econômico (chega a 10% do PIB) como trabalho (emprega aproximadamente 12% da população ativa). Dentro da oferta produziram-se avanços substanciais em aspectos como à diversificação, a qualidade e a criação de produto, através de uma ação conjunta por parte dos poderes públicos e a iniciativa privada. Estas políticas buscam manter a tendência de crescimento da demanda, especialmente a partir de princípios da década dos 90, sem esquecer a importância de fatores como o incremento do gasto dos turistas ou da estadia média, assim como a permanente batalha contra a estacionalidade.
Desde 1999 (quando se registraram pela primeira vez mais de cinco milhões de turistas) confirma-se a tendência, superando anualmente a cifra de 4 milhões. Com respeito á procedência dos turistas: 31,9% procede de Galícia, 51,6% do resto de Espanha e 16,5% do estrangeiro.
Segundo dados da Direção General de Turismo, em 2003 registrou-se em Galícia um grau de ocupação de 51%, cifra algo inferior á do ano anterior.
Os principais fatores que levam aos turistas a eleger Galícia como destino, por ordem de importância, são: razões familiares ou de amizade; natureza e paisagem; e cultura e costumes.
Os planos de excelência e de dinamização contribuíram para colocar em andamento um modelo de desenvolvimento próprio, no qual o turismo deixa de ser algo exclusivo de um grupo social para constituir uma das atividades primordiais de cidades e territórios. A partir deles, o setor reafirma a sua importância econômica, assim como o seu peso social e político.
Os planos trazem inovações fundamentais em produtos turísticos a partir de uma nova concepção do patrimônio, entendido como espelho da realidade, ligado á identidade e á utilização de novas formas de apresentação. Do mesmo jeito, os projetos turísticos convertem-se em projetos de território.
Por outro lado, a qualidade em destino desenvolve-se através dos Planos de Excelência e Dinamização Turística em colaboração com a Administração central e as corporações locais. Os Planos de Excelência vão dirigidos aos destinos maduros que tiveram um desenvolvimento turístico importante, normalmente baseados no binômio sol-praia e hoje ameaçados de obsolencência.
O patrimônio como recurso: A Rede Galega do Patrimônio Arqueológico
Os espaços naturais e o âmbito cultural do mundo rural constituem-se um atrativo turístico desde o princípio, já no século XVIII. Alguns destes espaços nasceram vocacionados para receber visitante. Eles têm uma riqueza natural em termos paisagísticos, um grande acervo histórico ou mesmo um ambiente cultural efervescente.
O patrimônio cultural, ambiental e paisagístico é a mola propulsora de qualquer iniciativa quando se fala de turismo nos centros médios e pequenos, principalmente. E o patrimônio arqueológico, entendido como bem de uso especial, comum ao povo de um país, inclui-se nessa expectativa quando presente no universo patrimonial das comunidades.
Para Pellegrini Filho (2000), a noção atual de patrimônio cultural não se restringe à arquitetura, a despeito da indiscutível presença das edificações como um ponto alto da realização humana, mas sim, obras arquitetônicas de escultura ou de pintura monumentais, elementos ou estruturas de caráter arqueológico, inscrições, cavernas e grupos de elementos, que tenham valor universal excepcional do ponto de vista da História, da Arte ou da Ciência.
O patrimônio cultural pode revalorizar-se no marco de um desenvolvimento sustentável da atividade turística. Para isto se requer a formulação de produtos turísticos que incluam o patrimônio cultural como uma dimensão maior enquanto desenvolvimento e não um mero elemento.
Os lugares, convertidos hoje em espaço de destino turístico, devem sustentar-se na revalorização, refuncionalização e criação de novos patrimônios que reforcem sua identidade.
Avaliando-se a recuperação econômica ocorrida em alguns países da Europa no pós-guerra, que utilizaram como recurso a cultura, e como meio, o turismo, nos últimos anos, esta fórmula passou a ser seriamente considerada como uma alternativa possível para o desenvolvimento econômico. Uma alternativa inclusive à indústria tradicional, que concentra riquezas e pobrezas e, via de regra, cobra um custo ambiental irrecuperável. Nesta linha, as indústrias culturais - artes plásticas, livro, música, teatro, dança, circo, televisão e outras mídias - além do patrimônio cultural também passaram a ser vistos como recursos , da mesma forma que as matérias primas fornecidas pela natureza (CUSTÓDIO, 2002).
Ao ser implementado de maneira coerente e com planejamento, o turismo pode participar substancialmente como instrumento de desenvolvimento local e regional, obtendo bons resultados.
Em países como México, Peru, Grécia, Espanha e Itália, o patrimônio arqueológico tem grande visibilidade. Certamente o patrimônio arqueológico brasileiro não possui sítios monumentais como nesses países. Mas, devidamente contextualizados, os sítios arqueológicos brasileiros ganharão interesse e importância no rastro das magníficas paisagens tropicais que se espalham pelos quatro cantos do Brasil .
No México, por exemplo, a relação da arqueologia com o turismo tem adquirido uma singular conotação nos últimos 25 anos. O desenvolvimento da atividade turística tem exercido uma maior influência na localização e no caráter das pesquisas arqueológicas realizadas no país. Os planos de desenvolvimento turístico têm determinado cada vez mais e com maior freqüência os projetos de pesquisa arqueológica. O problema é que, em muitas ocasiões, a rapidez com que se trabalha não permite um registro minucioso e exaustivo da informação obtida. Por outro lado, em razão da escassez de recursos, se abandonam ou afastam projetos que constituem interesse fundamental para a ciência antropológica.
Segundo Richards (1996), a situação na Espanha quanto ao turismo cultural, é considerada privilegiada no que se refere ao número de recursos patrimoniais. T odos os anos são mais de quarenta milhões de turistas que se dirigem à Espanha, por esta razão ela é tida como um dos três países do mundo mais visitados. Isto se deve a boa cozinha, a hospitalidade e a alegria de viver, mas também descobrir o seu riquíssimo patrimônio cultural, vestígio das diferentes civilizações que ocuparam o território. .
Diante desses fatores, as distintas administrações européias têm se empenhado para fomentar alternativas de espaços e tempos de ócio, como aqueles que se desenvolvem em torno do turismo rural e do patrimônio cultural.
Segundo dados da Consellería de Cultura, Comunicação Social e Turismo (2004), a Galícia possui um território de 29.575 Km 2 e uma população de 2.800.000 habitantes e conta atualmente com cerca de 15.000 jazimentos arqueológicos inventariados, que são gestionados pelo Serviço de Arqueologia da Administração Autônoma, desde 1985, integrado, junto a Direção Geral do Patrimônio Cultural no Conselho de Cultura, Comunicação Social e Turismo.
A Rede Galega do Patrimônio Arqueológico (RGPA), criada pela Junta da Galícia, é um exemplo. Ela se estrutura fundamentalmente em torno de três missões básicas: a difusão, conservação e investigação do patrimônio arqueológico de todo o território da Comunidade Autônoma. Os programas de ações são desenvolvidos em jazimentos a fim de contribuir na sua conservação, tornando-o compatível ao seu uso como recurso para promover e incrementar a conscientização do público acerca de seus valores culturais e poder conhecer o passado histórico da Galícia (JUNTA DE GALÍCIA, 2004).
O programa da RGPA prevê a criação de quatro grandes parques arqueológicos, enfocados de maneira temática sobre os quatro fenômenos culturais mais importantes do patrimônio arqueológico galego e distribuído em cada uma das quatro províncias galegas, com a finalidade de abarcar a totalidade do território da Galícia, que são os seguintes:
Parque Arqueológico do Megalitismo - província de A Coruña;
Parque Arqueológico de Arte Rupestre - província de Pontevedra;
Parque Arqueológico da Cultura Castrenha - província de Ourense;
Parque Arqueológico do Mundo Romano - província de Lugo;
Estes parques arqueológicos possuem objetivos que vão além da revalorização e difusão de uma área arqueológica concreta. Os parques arqueológicos gozam do máximo grau de proteção estabelecido na lei - como bens de interesse cultural - e representam, dentro da RGPA, a infra-estrutura mais ambiciosa para a apresentação ao público do patrimônio arqueológico, e será capaz de gerar recurso patrimonial que incida no desenvolvimento sustentável o entorno rural ou urbano do próprio parque.
Para Quesada (2000), o patrimônio cultural é uma criação social e o papel fundamental das instituições públicas é garantir os interesses da comunidade, não só no que diz respeito às ações não produtivas da ação cultural (recuperação, proteção, tutela, divulgação, exposição, etc.), mas também, a obrigação de favorecer o uso e desfrute universal do patrimônio e sua utilização como um recurso que favoreça a melhora das condições de vida (material e intelectual) da população.
Projeto da RGPA foi iniciado em 2001, com o objetivo de colocar em valor o patrimônio arqueológico de Galícia, e com o tempo, promover o desenvolvimento econômico, social e territorial dos espaços em que este se localiza. O projeto, apresentado já em foros nacionais e internacionais, inclui ações encaminhadas ao fomento da investigação e proteção do patrimônio, com fim de colocá-lo á disposição do públi co. Pretende-se também dar cabida a todas aquelas iniciativas, pública ou privadas, que tenham como objetivo a difusão do patrimônio arqueológico, integrando aqueles jazimentos que cumpram uma série de requisitos mínimos de qualidade.
A atuação principal da Rede Galega do Patrimônio Arqueológico centra-se na criação de parques repartidos em cada uma das quatro províncias galegas e destinados á conservação, investigação e difusão de restos arqueológicos, a saber:
1. Parque Arqueológico do Megalitismo, na Costa da Morte (A Coruña) .
Prevê-se, além da construção do Centro de Interpretação e Documentação do Megalitismo, a execução de atuações de acessibilidade, conservação e revalorização das câmaras megalíticas mais representativas, assim como o acondicionamento de rotas de visita aos principais conjuntos megalíticos desta zona.
O seu plano setorial facilitará a posta em marcha dos mecanismos de execução: aquisição de monumentos significativos, a construção do Centro de Interpretação e as atuações sobre os seus jazimentos e o seu âmbito. Para o ano 2005 prevê-se a finalização deste plano setorial, responsabilidade da empresa Tragsatec, para o qual se estão realizando os estudos prévios nos quais participam numerosos especialistas.
Dólmen - Maus de Salas (Muiños)
2. Parque Arqueológico da Arte Rupestre, em Campo Lameiro (Pontevedra) .
Os petroglifos, desenhos pré-históricos, gravados na rocha ao ar livre, são os restos mais antigos de um meio de comunicação entre os galegos e o mais além. O significado escuro dos labirintos, veados e cenas de caça, as formas humanas ou os símbolos astrais acentuam o seu interesse enigmático.
Com lema "Arte na paisagem", pretende proporcionar aos visitantes as claves interpretativas essenciais deste fenômeno artístico. Abrange um território de 22 ha . de titularidade pública, com mais de meia centena de rochas com gravados, no qual está previsto continuar com os trabalhos arqueológicos e de acondicionamento. No ano 2005 começaram as obras do Centro de Interpretação e Documentação de Arte Rupestre e continuará o processo de elaboração dos projetos museológico e museográfico.
Gravura rupestre em Campo Lameiro - Pontevedra
3. Parque Arqueológico da Cultura Castreja, no Castro de San Cibrao de Las nos conselhos de San Amaro e Punxín (Ourense) .
Já no período final da pré-história, a Idade do Ferro, a Galícia converteu-se numa potente região mineira, cheia de castros, o primeiro tipo de assentamento conhecido. O grande número destes castros, mais de 5.000, indica como a sociedade transformou os seus hábitos rurais para converter-se num mundo pré-industrializado, com uma rica elaboração artística dos seus produtos metalúrgicos.
O habitat castrejo reúne, em arquitetura e ourivesaria, toda uma riqueza patrimonial e artística. Cada castro está formado por um grupo de construções, cabanas e coberturas, disseminadas em pequenas agrupações e rodeadas, por sua vez, por uma ou várias muralhas. A casa ou cabana do castro está construída com um muro circular de pedra de pouca altura e uma cobertura de palha de centeio (colmo). Para facilitar a sua defesa estão situados em lugares altos ou bem em promontórios costeiros. O uso deste tipo de construções com teto de palha em todo o noroeste peninsular, manteve-se ao longo da história, chegando até aos nossos dias construções semelhantes, as palhoças, que enraizam com o passado.
O Parque Arqueológico compreende uma área nuclear de 35 ha ., de solo público onde se encontra o jazimento e o seu contorno imediato. O parque está em uma fase avançada. As previsões para 2005 centram-se em continuar com os trabalhos de investigação do jazimento (escavação, conservação e revalorização) para facilitar a visita dentro de um itinerário e nas obras de construção do edifício.
Castro de San Cibrao de Lãs - Ourense
4. Parque Arqueológico do Mundo Romano, na cidade de Lugo (Lugo) .
O interesse que Roma demonstrou pela Galícia é devido às possibilidades mineiras da região. Após várias explorações e uma guerra de conquista que durou cem anos, todo o noroeste peninsular passou a fazer parte da Espanha romanizada no século primeiro da nossa era. Lugo (Lucus Augusti) tem o privilégio de conservar a muralha romana. Construída na época baixo imperial, com cinqüenta cubos e mais de dois quilômetros de longitude, foi declarada Patrimônio da Humanidade.
Outro atrativo da Galícia para o mundo romano foram as suas águas e fontes termais que originaram os balneários e termas como as de Lugo, cidades como a de Ourense e templos pagãos dedicados às ninfas como Santalla de Bóveda (Sta Eulalia). A grande maioria das construções e restos romanos conservados na Galícia referem-se às explorações mineiras, com as vias de comunicação e as fontes termais.
O Parque Arqueológico está localizado na própria cidade, que constitui propriamente o jazimento arqueológico, marca a diferença com os demais parques. O feito de se encontrar em uma paisagem urbana dificulta a consecução de terrenos de titularidade pública para o Centro de Interpretação que, devido as suas funções e necessidades, será distinto a planta. Na atualidade dispõe-se de uma análise das necessidades deste centro, com os estudos de mercado e a viabilidade de propostas para o plano de negócio e gestão. Os objetivos para 2005 centram-se na consecução dos terrenos adequados para a situação deste organismo. Por outro lado, desenvolvem-se trabalhos de museolização em diversos jazimentos da cidade que formarão parte da oferta do Parque Arqueológico.
Muralha Romana - Patrimônio da Humanidade - Lugo
Apesar do tamanho reduzido de seu território, Galícia desfruta de uma grande riqueza arqueológica, cuja proteção, divulgação e estudo tem sido articulado pela Rede Galega do Patrimônio Arqueológico. Além dos quatro parques, a rede conta com os jazimentos visitáveis, e tudo o que deles significar rentabilização social para seu entorno.
Referências Bibliográficas
ALVAREZ, C. y GRANDE, J. Turismo cultural: análisis de la oferta; el producto y su comercialización . In: Grande, J., Coord. Actas del Congreso Europeo sobre Itinerarios Culturales y Rutas Temáticas; 1997 Logroño: Fundación Caja Rioja; 1998: 115-178.
ARIÑO, Antonio Asociacionismo y patrimonio cultural en la Comunidad Valenciana . Consellería de Educación y Cultura (inédito). Valencia. 1999.
____________. "La expansión del Patrimonio Cultural", Revista de Occidente , nº. 250, marzo 2002.
AZEVEDO, J. Turismo, cultura e patrimônio. In: CORIOLANO, N.M.T. (org.). Turismo com ética . v.1. Fortaleza: UECE, 1998
BALLART, Josep. El Patrimonio Histórico y Arqueológico : Valor y Uso, Barcelona, Ariel Patrimonio Histórico, 1997.
BAPTISTA, A. Martinho. O complexo de gravuras rupestres do Vale da casa (Vila Nova de Foz Côa). Arqueologia . 8, 1993, p. 57-69.
BARRE, J. Vendre le Tourisme Culturel . Paris: Económica; 1995. 316 pp. Patrimoine.
BARRETO, Margarida. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2000.
BOTE GOMEZ, V. Turismo de ciudad y patrimonio cultural en España: algunas características estructurales desde el punto de vista económico . In: Marchena M., Edit. Turismo urbano y patrimonio cultural una perspectiva europea. Sevilla; 1998.
CAMPILLO GARRIGÓS, R. La gestión y el gestor del patrimonio cultural . 1ª ed. Murcia: EditorialKR;1998.328pp.
CASTRO MORALES, F and BELLIDO GANT, M. Patrimonio, museos y turismo cultural: claves para la gestión de un nuevo concepto de ocio. Córdoba: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Córd; 1998. 180 pp.
CONSEIL DE L'EUROPE. Les Itinéraires en tant que Patrimoine Culturel . Madrid; 1994.
CRIADO BOADO, F. Arqueologia del paisaje y espacio megalítico en Galicia. Arqueología Espacial. 1988, 12, p. 61-117. Teruel.
FIGUEROLA PALOMO. El arte y la cultura en la actividad turística . En: Turismo y gestión del patrimonio cultural. Conferencia dictada en la Universidad Internacional MenendezPelayo.Santander,1999.
FLADMARK, J. M. Cultural tourism . 1ª ed. London : Donhead Publishing Ldt; 1994. 413 pp.
FUNARI, P. P. & PINSKY, J. (orgs.). Turismo e patrimônio cultural . São Paulo: Contexto, 2001 (Col. "Turismo Contexto").
GÓMEZ Ferri, Javier "Del patrimonio a la identidad. La sociedad civil como activadora patrimonial en la ciudad de Valencia". Gazeta de Antropología , nº. 20, 2004.
GONZÁLEZ MÉNDEZ, M. O patrimonio cultural na organización da oferta turística galega: o papel dos conellos na organización desta oferta. FEGAMP (Revista da Federación Galega de Municipios e Provincias) . Santiago de Compostela, 1994b, 5, p. 57-63.
GUZMÁN, C.M. de. MINISTERIO DE CULTURA. Seminário de Parques Arqueológicos. Madrid: Instituto de Conservacion y Restauracion de Bienes Culturales, 1993.
HASEGAWA, J. K.; KUNZLI, R.; CORTEZ THOMAZ, R. C. Corrida Contra o Tempo: Salvamento Arqueológic o. Oregon (EUA), Revista Geo Convergência , v.2, n 0 2, junho de 1999, pp. 10-18.
INSTITUTO DE ESTUDIOS TURISTICOS. Estudio de los paquetes turísticos. Año 1996, y avance del verano 1997, resumen ejecutivo. Madrid : Instituto de Estudios Turísticos; 1997.46pp.
LEMOS, A. I. G. de (org.). Turismo: impactos socioambientais. 2ª ed. São Paulo: Hucitec, 1999 (Col. "Geografia: Teoria e Realidade", vol. 31).
LEMOS, C. A. C. O que é patrimônio histórico . São Paulo: Brasiliense, 1981 (Col. "Primeiros Passos", vol. 51).
LOIS GONZÁLES, R. C. e SOLLA, X. S. La actividad turística española en 1999 . In: AECID [s.n.], Madrid, 2000, pp. 353-367. .
MENEZES, Ulpiano T. Bezerra. Os "usos culturais" da cultura. Contribuição para uma abordagem crítica das práticas e políticas culturais. In: YÁZIGI, Eduardo, CARLOS, Ana Fabri Alessandri, CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Turismo: espaço, paisagem e cultura . São Paulo, Hucitec, 1999.
MORAIS, J. L. A Arqueologia e o Turismo. IN: FUNARI, P. P. e PINSKY, J. Turismo e Patrimônio Cultural . São Paulo: Contexto, 2003.
NIETO SANDOVAL, M. "La situación del turismo cultural". In: Grande, J., Coord. Actas del Congreso Europeo sobre Itinerarios Culturales y Rutas Temáticas; 1920 22-1997 22Logroño: Fundación Caja Rioja; 1998: 45-56. 366 pp. ISBN: 84-89740-14-3.
Querol, M.A. (1993) Filosofía y concepto de Parque Arqueológico, Seminario de Parques Arqueológicos. Ministerio de Cultura. 13-22.
SHACKLEFORD, P. "Nuevos productos turísticos: el resurgimiento del turismo cultural". In: Grande, J. Coord. Actas del Congreso Europeo sobre Itinerarios Culturales y Rutas Temáticas; Logroño: Fundación Caja Rioja; 1998: 39-44. 366 pp. ISBN: 84-89740-14-3.
SOLLA, X. S. Tipoloxía e novas modalidades de Turismo. Turismo Rural e Desenvolvimento Territorial. SEMINARIO DE INICIATIVAS LOCAIS, 1. Anais , Arzúa, 2001.
TRESSERRAS, J. J. El arqueoturismo o turismo arqueológico: um paso más para la valorización del patrimonio arqueológico. Boletín de Gestión Cultural nº. 9: Turismo Arqueológico, 2004. ISSN: 1697-073X.
WORLD TOURISM ORGANIZATION. Concepts, definitions and classifications for tourism statistics. Madrid: World Tourism Organization; 1995. 125 pp.
NOTAS
* Doutora em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP - Brasil); docente da Faculdade de Turismo da Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE - Presidente Prudente/SP; pós-doutoranda junto à Universidade de Santiago de Compostela (USC - Espanha); e bolsista da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - São Paulo - Brasil.
O "dólmen" é uma câmara formada por duas pedras grandes planas fixas no chão e coberta com uma grande laje também de pedra e que se chega dentro por um passadiço ou corredor construído da mesma maneira. Estas salas de enterramento coletivo, de traçado poligonal ou retangular, encontravam-se cobertas por um montículo de terra, conhecidas como "túmulo".
Buscar en esta seccion :