CONGRESO VIRTUAL 2000

Sentidos da Festa à Brasileira[1]

Rita de Cássia Amaral [2]

Freqüentemente ouvimos dizer que “no Brasil tudo acaba em festa”. Esta associação entre o caráter brasileiro e a festa deixa transparecer a percepção de uma certa displicência, “alienação” e descaso com as normas e a ordem, imediatamente referidas ao Carnaval (notadamente um tempo em que se supõe ser possível quebrar ou subverter regras) e às inúmeras outras festas que acontecem no país. Tanto dentro do Brasil, como no exterior, somos considerados o “país do Carnaval" (e o dicionário registra que a palavra carnaval também significa “confusão, desordem, trapalhada”) e da alegre irresponsabilidade, o que implica o impulso para festejar como definidor da imagem internacional e da auto-imagem brasileira, sendo, portanto, um traço distintivo da identidade nacional. "O Brasil", teria afirmado o presidente da França Charles De Gaulle, "não é um país sério". Mas será que festejar se opõe à responsabilidade e à consciência social? À cidadania? Ao enfrentamento de problemas?

A festa é, de fato, um marcante elemento constitutivo do modo de vida brasileiro (Del Priore, 1994). Se muita coisa “acaba em festa”, muita coisa também começa por ela (Magnani, 1984). Portanto, a festa não pode ser vista, pelo menos no Brasil, como mera fruição, divertimento ou “válvula de escape” para as tensões acumuladas na vida cotidiana, embora também o sejam.. Afinal, não devemos esquecer que as inúmeras festas brasileiras acontecem com fundamentos diferentes para os vários grupos que as promovem. Ë preciso, então, compreender de que festa se está falando, como é produzida e com que finalidades. E, mais ainda, qual o significado dela para os que a produzem e para o povo brasileiro em geral que, de fato, quantitativamente, realiza muitas festas, conforme se pode notar nos inúmeros calendários das Secretarias de Cultura e de Turismo dos estados e municípios brasileiros (Amaral, 1998).

As mediações da festa na história brasileira

Historicamente, as festas cumpriram (e cumprem, ainda hoje), um papel essencial na cultura brasileira. Desde o período colonial ela foi importante elemento na construção da sociabilidade (Del Priore, 1994), facilitando, através das múltiplas leituras dos símbolos que nela eram inseridos, não apenas a integração entre portugueses e índios (os jesuítas usaram, muitas vezes, o interesse dos índios pelas festas religiosas para atraí-los e estabelecer contatos com objetivos de catequese.) e mais tarde os negros e outros grupos, como o estabelecimento do que se pode chamar de o “pacto” cultural brasileiro”.

Vivendo num ambiente desconhecido e de constante enfrentamento de adversidades, os novos habitantes do Brasil tinham nas festas, principalmente as religiosas, um momento de descanso, devoção, lazer e renovação do ânimo e das esperanças, além da afirmação de seus valores, mesmo distantes de sua terra natal. Também como modo de “amenizar” a escravidão as festas foram importantes, pois delas também os negros participavam, num de seus raros momentos de “liberdade” no cotidiano de cativeiro pois, além da participação de todos nas festas religiosas ser um preceito bíblico (Deuteronômio, 16:14), a população brasileira, à época, era reduzida e as festas necessitam muita gente não apenas para produzi-las como para desfrutá-las e dar-lhes feições comemorativas.

Juntamente com a religiosidade, da qual elas não se separam, as festas parecem ter sido um dos fortes elementos de mediação entre as diferentes culturas que povoaram o Brasil e que deram origem à cultura nacional. Nelas, negros, índios e brancos se uniam para vivenciar, num momento fora do trabalho cotidiano e dos olhos vigilantes da Coroa, a alegria, a música, os símbolos de múltiplas leituras, a distribuição de comidas trabalhosas e, principalmente, um momento de relativização da ordem estabelecida, simbolizado através das fantasias e dos acontecimentos das festas. Talvez por isso, o festejar colonial tenha sido constante, a ponto de as festas se incorporarem à cultura brasileira como linguagem favorita, para a qual se traduzem os reais valores do povo. Tudo era motivo para festas e as narrativas dos viajantes, assombrados com seu fausto e freqüência expressa o estranhamento diante da bricolagem de que elas se constituíam, resultado dos múltiplos sentidos postos em contato, múltiplas estéticas e diferentes representações em jogo nestes momentos. Tomas Ewbank, um viajante norte-americano em visita ao Brasil, narrava, no ano de 1856:

"As ruas são varridas e cobertas de folhas, as fachadas das casas são enfeitadas de flores e bordados, mulheres e crianças amontoam-se às janelas, os habitantes rurais acorrem ao espetáculo e à sua espera formam-se por toda a parte grupos de ambos os sexos. Finalmente aparecem estátuas em tamanho natural e pintadas ao vivo, colocadas sobre estrados e carregadas em triunfo aos ombros dos homens, em meio a uma turba de autoridades, com os mais diversos trajes. Pontífices mitrados, com caudas das vestes seguras por pajens, passam por debaixo de pálios, acompanhados por magistrados civis e escoltados por batalhões de soldados, tudo precedido e seguido por coortes de padres, frades, irmãos leigos, acólitos, com bandas de música, bandeiras, fachos, turíbulos, mastros, etc., enquanto da confusa massa de espectadores emergem em surdina observações reverentes ou profanas, à medida que cada divindade de madeira desfila levada por ombros suados" [...]"As festas e as procissões constituem os principais esportes e passatempo do povo, e neles os próprios santos saem de seus santuários, juntamente com os padres e a multidão, participam dos folguedos gerais. Não levar tais fatos em consideração seria omitir os atos mais populares e esquecer os protagonistas favoritos do drama nacional” (Ewbank, 1976L18/19)

As festas eram, como em geral o são ainda hoje, patrocinadas pela população. A Igreja católica pedia a cada habitante, fosse ele nobre, mendigo ou escravo, que doasse dinheiro ou prendas para as festas dos santos. Pedia (e obrigava) que todos participassem, apresentando danças, alegorias, bandeiras etc. nas procissões em homenagem aos santos.. Com isso, a organização para a festa pôde ser aprendida ao mesmo tempo em que os diferentes segmentos sociais iam encontrando brechas para inclusões de seus símbolos nelas.. Deste modo, as diferentes culturas que se encontravam no Brasil foram introduzindo elementos nas festas religiosas, como música, danças, símbolos religiosos, que acabaram incorporando-se definitivamente a elas. As festas do Divino Espírito Santo, de Nossa Senhora do Rosário, o bumba-meu-boi de São João, os Tambores de Crioula, Reisados, as festas juninas, o Saruê, os Caboclinhos, os afoxés, .os círios, e todas as manifestações festivas brasileiras estão plenas de contribuições dos grupos que participaram da construção da cultura brasileira. Assim, a ampla adesão popular às festas e a presença nela de todos os segmentos sociais e raciais, deixou suas marcas na cultura brasileira, reconhecíveis ainda hoje, especialmente como modo de expressão (e em alguns casos até mesmo de ação) popular. E a cada ano vão sendo acrescidos novos elementos ao patrimônio festivo nacional, a partir dos novos grupos que chegam ou se formam e que estabelecem modos próprios de festejar (Amaral, 1996). Dito que a festa no Brasil é histórica e constitutiva de nossa cultura, resta ainda a pergunta: por que se festeja?

Por que festa?

De acordo com dois dos principais e antagônicos modelos teóricos das Ciências Sociais sobre a Festa , ela é a experimentação momentânea da sociedade sem regras, livre de um dado modo de organização, tendo a função de reiterar ou de negar o modo pelo qual uma sociedade se organiza num dado momento histórico, através da dissolução temporária que o desregramento permite. Ela reiteraria (Durkheim, 1968) a organização social ao tornar perceptível a imprescindibilidade das regras limitadoras a fim de que a sociedade não se dissolva no caos e anomia da qual a festa costuma ser o exemplo. Ou, por outro lado, “negaria”(Caillois, 1950)  esta mesma organização através do desregramento, para afirmar a utopia da sociedade ideal, nova, na qual a alegria e a interação total com a própria natureza humana, sejam o modelo do viver pleno e feliz. A utopia do retorno ao Paraíso primordial.

É preciso, entretanto, levar em consideração que ambos os modelos teóricos foram construídos tomando como referência as festas das sociedades “simples”, nas quais a adesão a valores culturais pode se dar de modo um pouco mais homogêneo que numa sociedade “complexa”, onde os vários grupos coexistentes defendem valores próprios, exclusivos e até mesmo antagônicos muitas vezes, tornando mais difícil pensarmos que as festas de uma sociedade intensamente pluricultural possam “negar” ou “afirmar” um conjunto de valores estabelecidos e partilhados por todos. É necessário considerar ainda que a festa, na sociedade complexa, não é (e nem pode ser) totalmente desregrada como se imagina em tais teorias, algumas sendo mesmo, pelo contrário, extremamente reguladas, em geral pela tradição ou pelos preceitos e fundamentos religiosos, como é o caso do Círio de Nazaré (PA), das festas do Divino Espírito Santo (que acontecem em todo o Brasil) e da Festa do Peão Boiadeiro de Barretos (SP) entre muitas outras. Além disso, numa sociedade de massas, qualquer evento é partilhado por milhares de pessoas, e um desregramento radical poderia levar à explosão da violência, como aponta René Girard (1990) em A Violência e o Sagrado. Para Girard , a festa também significa a destruição das diferenças entre os indivíduos, e ele as associa à violência e ao conflito, pois são as diferenças que mantêm a ordem. Na festa, ao diluírem-se as diferenças, destruindo as regras que separam, a violência se encontra sempre latente.

Festa “à brasileira”

A análise da maioria das festas brasileiras induz à conclusão de que elas (ou talvez seja mesmo possível estender esta afirmação às festas dos países em desenvolvimento, onde as regras sociais se encontram também em efervescente transformação) constituem um modelo intermediário entre os dois citados, exercendo simultaneamente o papel de negar e reiterar o modo como a sociedade se organiza justamente selecionando, através da inclusão e exclusão, pela vontade popular do que deve ou não estar presente nela, o que deve ser lembrado e o que deve ser relegado ao esquecimento; o que deve ser transformado e o que não deve.. Ao se apresentarem como mediação privilegiada entre dimensões e estruturas várias, unindo o passado ao presente, o presente ao futuro, a vida e a morte (nas festas comemorativas de eventos históricos, por exemplo), o sagrado e o profano, a fantasia e a realidade, o simbólico e o concreto, os mitos e a história, o local e o global, a natureza e a cultura entre muitas outras, as festas constituem um evento transcendente, um mundo ideal, sem tempo nem espaço, onde a imaginação tudo pode engendrar, transformar, refazer. Diante do “dilema brasileiro”, apontado por Roberto Da Matta (1978) - a dificuldade de escolher entre opostos, e sempre “escolher não escolher”--, a festa se mostra como solução simbólica pois, ao unir o ser ao não-ser, através da realização de todas as utopias ainda que por breves períodos, “coloca em cena”, por meio de seus aspectos mais dramatizados, projetos coletivos e individuais, concretiza sonhos, anseios e fantasias, ao mesmo tempo em que, longe de constituir um fenômeno alienante, separado e distante da vida real, volta-se também à resolução de problemas reais, através da organização dos grupos em nível local, visando por exemplo angariar fundos para a construção de escolas, asilos, creches, igrejas, fundos de auxilio às pessoas carentes e algumas festas de origem mais recentes são mesmo criadas visando fortificar a economia local de certas cidades, como é o caso da Oktoberfest de Blumenau (SC), criada para revitalizar a vida da cidade após uma inundação, em 1983..

Todas as festas, das maiores às menores, não apenas atualizam mitos, como revivem e colocam em cena a história do povo, contada sob seu ponto de vista. Ela é, desde o princípio, um dos lugares ocupados pelo povo na história brasileira, talvez uma de suas primeiras conquistas reais, e nela ele se vê e se representa em papéis ativos. Desfilando pelas ruas a riqueza de suas relações com outros grupos, como no Carnaval, ou privilégio de suas relações com as divindades todas que ouvem suas preces e lhe entregam milagres, como nas procissões, ele se reconhece. Como se reconhece em força nas massas que caminham por grandes avenidas, empurrando carros alegóricos com símbolos de sua história, empurrando a própria história[3]  em toda sua riqueza, levando em frente suas paixões e utopias Além disso, a breve substituição do poder oficial estabelecido por um poder de fantasia, mágico, pode ainda ser o meio para comunicar ao primeiro as críticas sociais e aspirações que não o alcançam no curso ordinário da vida política. Da Bandeira do Divino, com seu imperador e súditos desfilando pelas ruas das pequenas cidades ao monumental Carnaval Devoto de Nazaré (PA) ou as alegorias futuristas das escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo, o que está em cena é vida do povo, sua história e seus anseios encenados na forma de alegorias, máscaras e fantasias.

Muitas festas cresceram tanto que passaram a ocupar grandes espaços destinados a elas nos centros urbanos, muitas vezes construídos com esta função exclusiva, especialmente a partir da construção do Sambódromo do Rio de Janeiro, depois da qual surgiram espaços semelhantes em todo país, mais uma indicação de que o Carnaval oferece elementos de referência a grande parte das festas brasileiras. Ter um espaço especialmente construído para a festa, em geral utilizando um símbolo da festa (o Bumbódromo de Parintins foi projetado na forma de chifres de boi, o Parque do Peão em Barretos tem a forma de uma ferradura, a cidade cenográfica em Caruaru é uma vila caipira construída para a realização do “Maior São João do Mundo” etc..) como tema arquitetônico, indica a importância da festa e seu lugar na vida das cidades e do país, além da preocupação em receber bem os que vão às festas. Isto acontece, em geral, nos lugares em elas se tornaram eventos de massas, o que pode ser explicado pela urbanização que permite o acesso e a recepção de pessoas de toda parte.

No Brasil, também, as festas populares movimentam milhões de dólares em sua produção, providos por patrocinadores que a vêm usando como mais um lucrativo espaço para a inserção de propaganda e promoção de consumo, investindo a cada ano mais neste filão, como é o caso da Coca-Cola que patrocina a Festa do Boi de Parintins (AM), do Bradesco que patrocina a Festa do Peão Boiadeiro de Barretos (SP), da Brahma que patrocina centenas de festas no Brasil. Não se trata, contudo, de a festa ter sido invadida pela publicidade e arrancada das mãos populares e, sim, da necessária negociação para seu crescimento juntamente à percepção, por parte das populações, das vantagens, além do divertimento, que ela é capaz de proporcionar ao crescer, mesmo se para isso for preciso que algo se transforme um pouco. Deste modo, as grandes festas já não são festas “espontâneas” mas cuidadosamente planejadas, para as quais os preparativos são feitos com grande antecedência e implicam a organização permanente de pessoas encarregadas de executar inúmeras tarefas. No caso das pequenas festas, isto também acontece, embora em escala menor, pois nela os patrocinadores são pessoas do povo, como é o caso das Festas do Divino Espírito Santo (GO) ou da Festa da Achiropita (SP), entre centenas de outras. As grandes festas brasileiras são, ainda, festas de longa duração, período em que tudo se mobiliza em função delas, pontuado por momentos fortes, rituais, e outros, menos marcados, onde o que conta é o lazer, o namoro, a diversão, a transposição de limites e “quebra” de algumas regras.

As festas tem se mostrado também, surpreendentemente, como um modo informal de concentração e redistribuição de riquezas, como acontece na Oktoberfest (SC), na Festa da Achiropita (SP) e do Peão Boiadeiro (SP), entre outras. O investimento dos recursos arrecadados nestas festas  e em outras semelhantes é feito, preferencialmente, em obras sociais (creches, escolas, asilos) e as associações criadas para realizar a festa acabam, muitas vezes, ultrapassando esta função e tornando-se instituições ou mesmo organizações não governamentais, que visam agir de modo a melhorar as condições de vida populares. A Festa da Achiropita e o c.e.d.o (SP), a Escola Criativa do afoxé Olodum (BA), os trabalhos sociais da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira (RJ) e os investimentos da Oktoberfest (SC), entre outros, são exemplares. É claro que as festas não são feitas com objetivos exclusivamente sociais ou de redistribuição de riquezas, mas esta é uma característica bastante significativa quando falamos de festa “à brasileira”.

Tanto a festa é um valor diacrítico na cultura nacional que, além de ser constantemente referida como característica brasileira, vem se tornando um produto turístico cada vez mais atraente, pelo que se pode deduzir dos relatórios da Embratur e das Secretarias de Turismo. Elas vêm gerando um crescente mercado de empregos, produtos e serviços que lhe são correlatos, o que propicia seu mais rápido crescimento e a difusão de modelos de festas por todo o país, como é o caso das Fests (inspiradas no modelo da Oktoberfest -festa do chope), das Festas de Peão e das Festas de colheitas (da maçã, do morango, do milho, do caju etc), inspiradas na Festa da Uva. Além disso, toda a infra-estrutura necessária ao crescimento das festas (hotéis, estacionamentos, restaurantes, lojas, gráficas, farmácias, hospitais etc..) se multiplica à proporção em que elas crescem, aumentando as oportunidades de trabalho e de investimento. Elas retêm, ainda, uma fatia do mercado fonográfico, de marketing, jornalístico, televisivo etc., o que as torna um dos bons negócios brasileiros.

Existem ainda outras dimensões relevantes, como a organização política local e o uso da festa. O poder instituído tenta fazer uso dela em seu favor, mas a festa não se deixa capturar. A negociação entre os símbolos da festa e seu uso político é complexa, e ela só se rende naquilo que considera necessário para atingir seus objetivos. Ao mesmo tempo, se o Estado tenta fazer da festa um produto turístico, devemos lembrar que para aqueles que realmente dominam seu código simbólico, a leitura dos elementos que ela contém é sempre diferente da leitura dos turistas e visitantes, que a vêem, geralmente, como espetáculo e diversão.

Não é à toa como se pode notar, que se diz que "o Brasil é o país da festa”. Isto é compreensível, já que ela pode comemorar acontecimentos, reviver tradições, criar novas formas de expressão, afirmar identidades, preencher espaços na vida dos grupos, dramatizar situações e afirmações populares. Ser o espaço de protestos (as passeatas e manifestações pelo impeachment do presidente Collor de Mello, em 1992, eram imensas festas, com música, dança e comida) ou da construção de uma cidadania "paralela"; de resistência à opressão cultural, social, econômica ou, ainda, de catarse. Além disso, sendo capaz de mediar diferentes valores, termos e sentidos numa sociedade pluricultural, ela se revela como poderoso instrumento de interação, compreensão, expressão da diversidade, englobando-as e permitindo a todos se reconhecerem, na festa, como um povo único.

Todas estas dimensões fazem, portanto, da festa brasileira, uma festa especial. Não porque seja exclusiva do povo brasileiro, mas porque, no Brasil, adquire significados sociais, culturais e políticos específicos, sendo inegável a disposição permanente dos brasileiros para a festa. Portanto, sobram motivos para que ela seja querida e cresça, crescendo também o orgulho brasileiro de festejar. Afinal, “a gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte”. A gente quer festa.


Bibliografia

Amaral, Rita de Cássia. (1996) Cidade em Festa: o povo de santo (e outros povos) comemora na cidade In: Magnani, J.G. e Torres, Lilian de Lucca (orgs) Na Metrópole- textos de antropologia urbana. São Paulo, Edusp.

Amaral, Rita de Cássia. (1998) Festa à Brasileira. - Significados do festejar no país que “não é sério”. Tese de Doutoramento, São Paulo, USP.

Caillois, Roger. (1950) L’Homme et le sacré. Paris, Gallimard.

Del Priore, Mary  (1994) Festas e Utopias no Brasil Colonial. São Paulo, Ed. Brasiliense.

Durkheim, Emile (1968) Les Formes élémentaires da la vie réligieuse. Paris, PUF, 5a. ed.

Ewbank, Thomas  (1976) Viagem ao Brasil. Edusp/Itatiaia, São Paulo,

Girard, René (1990). A violência e o sagrado. São Paulo, UNESP/Paz e Terra.

Magnani, José Guilherme C. (1984). Festa no Pedaço. São Paulo, Ed. Brasiliense.



[1] - Este artigo tem como base os dados da pesquisa de doutoramento realizada no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo, financiada pelo cnpq e pelo Programa de Dotações para Pesquisa da ANPOCS com recursos da Fundação Ford.

[2] - Doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo.

[3] - Não é a toa que na Festa da Independência do Brasil o povo, sempre alijado da história oficial, permanece nas calçadas, observando os desfiles militares, enquanto em outros países o povo desfila nas ruas, reconhecendo-se protagonista de sua história,. como nos EUA no 4 de julho e na França no 14 de julho. No Brasil, é no Carnaval que o povo ocupa as ruas, reconhecendo-se e contando sua história na festa.


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