A Representação da Sexualidade e das Doenças Sexualmente Transmissíveis Segundo as Idosas da Cidade de Olinda: Estudo de Caso na “Cais do Parto” – ONG/OLINDA-PE
SONIA MARIA COSTA BARBOSA *
* Professora de Antropologia do Departamento de Ciências Sociais
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Universidade Federal de Pernambuco
E-mail: soniabarbosa45@hotmail.com
RESUMO
Esta comunicação tem como finalidade informar sobre a pesquisa realizada com as mulheres idosas que são atendidas numa organização não governamental que se acha instalada na cidade de Olinda/PE, que tem como objetivo assistir as mulheres, não só idosas mas, as que são pertencentes à categoria de adolescentes e jovens adultas que necessitam de informações sobre sua sexualidade, saúde, trabalho, relações sociais, enfim, sobre sua cidadania. Desse modo, ao ter contato como agente multiplicador de informações, a pesquisadora observou a necessidade de aprofundamento sobre a questão da sexualidade e das doenças sexualmente transmissíveis que se inserem em sua realidade e como elas são representadas por essa amostra, de modo que possibilitasse traçar um perfil das informantes no que toca às suas estratégias de sobrevivência diante delas.
O interesse que vem sendo apresentado nos estudos acadêmicos sobre a condição de vida dos idosos, leva a crer que finalmente a sociedade tem despertado para esse tema, uma vez que a população dessa faixa etária, tem apresentado um crescimento admirável em todas as sociedades ocidentais. O crescente desenvolvimento de novas tecnologias na área médica, sobretudo na gerontologia, promove uma maior expectativa de vida para boa parte da população que ingressou no estágio da 3º idade.
Os estudos sobre a terceira idade quase sempre se limitam a uma abordagem médico-terapêutica que, invariavelmente tratam a questão da velhice a partir de uma concepção de patologia, de distúrbios fisiológicos, esquecendo-se de toda uma trama sócio-cultural que condiciona e permeia a realidade e a vivência social dessas pessoas em todos os seus aspectos.
A concepção sobre a velhice, na maioria das sociedades industrializadas, não está isenta de mitos, preconceitos e falsos estereótipos, apesar de que os idosos hoje estão vivendo as vidas mais longas da história da humanidade.
Na sociedade brasileira, ser velho significa na maioria das vezes, estar excluído de vários lugares sociais. Um desses lugares é aquele relativo ao sistema produtivo, o mundo do trabalho. Estar alijado do sistema produtivo quase que inteiramente define o “ser velho”.Estar excluído do mundo produtivo – extremamente valorizado na cultura brasileira – espalha-se criando barreiras impeditivas de participação do velho nas outras tantas e diversas dimensões da vida social. (Goffman, 1974: 53). No entanto, é importante apontar que uma ampliação do significado de produtor está sendo discutida e cada vez mais, utilizado por profissionais, sejam os que trabalham diretamente com o segmento do idoso, sejam aqueles que são responsáveis pelo desenho de uma política social para este mesmo segmento.
O idoso tem consciência de sua importância social, mas a mesma é embotada por aquela imagem que, insistentemente persiste em descarta-lo (quando não são veiculados casos em que ao idoso, tudo é permitido, inclusive na área sexual, já que o mesmo se encontra no final da vida!). Isto pode representar uma distorção de imagens, pois na maioria das vezes, elas se restringem à área de lazer, evidenciando assim, que a pessoa ao atingir a terceira idade, deve apenas se preocupar com esta área, já que muito trabalhou em sua vida. Mas, será que a vida dos idosos deve se restringir à apenas esta área? E a sociedade, que supervaloriza o trabalho e, conseqüentemente o consumo, cria espaços para os mesmos adquirirem poder aquisitivo para concretizar o lazer real em suas vidas?
Esta ampliação significa não mais somente medir a produtividade econômica e conseqüentemente, definir o produtor a partir desse único critério, mas alargar o significado de produtor na direção das outras esferas da vida social, passando assim a classificar de modo a incluir o velho, como “produtivo” e ou “produtor social”.
Outros significados aparecem ligados à idéia de velho, quando se estuda a identidade social desses sujeitos. Com certeza a análise da construção das identidades sociais é um campo vasto e rico de possibilidades de desvendamento de significados criados pela sociedade brasileira, ou setores da mesma para explicar o que é ou quem é velho.
Assim no Brasil, a identidade do idoso se constrói pela contraposição à identidade do jovem, e como conseqüência se tem também a contraposição das qualidades: atividade, força, memória, beleza, potência e produtividade como características típicas e geralmente imputadas aos jovens e as qualidades opostas a estas últimas, presentes nos idosos. A velhice para ser compreendida em sua totalidade deve ser analisada não somente como um fato biológico, mas também, como um fato cultural. E neste aspecto, recorre-se a autora francesa, quando diz que “a velhice, como todas as outras situações humanas, tem uma dimensão existencial: modifica a relação do indivíduo com o tempo e, portanto, sua relação com o mundo e com sua própria história”.(Beauvoir, 1990:58-59). E ainda, “por outro lado, o homem não vive nunca em estado natural; na sua velhice, como em qualquer idade, seu estatuto lhe é imposto pela sociedade a qual pertence”.(Beauvoir, 1990:59).
O que vale dizer, que toda sociedade possui regras de comportamento, linguagem e valores que evidenciam o universo da cultura a qual está inserida. Desse modo, os significados atribuídos aos fatos e às coisas numa determinada sociedade serão diferenciados daqueles pertencentes à outra sociedade. O que significa que hoje na sociedade brasileira, ser velho é viver numa situação de discriminação social. E esta situação poderá ser modificada caso seus valores culturais, à medida que o tempo passar e a população internalizar valores que dêem uma visão mais solidária em relação aos idosos, a fim de que os mesmos possam desfrutar de uma vida digna.
A família é o habitat natural de todos que a ela pertencem, quer dizer, o local onde se é o que se é, sem máscaras sociais. Segundo Villadrich (1987:52), “ser família não é outra coisa que realizar o nascer, viver e morrer segundo as exigências de amor radical, incondicional e devido, derivadas da dignidade pessoal de quem nasce, vive e morre”.
Dada a importância da família como base e raiz da estrutura social, em relação ao idoso, ela é um órgão de apoio e saúde. Na verdade, a população idosa é proveniente de uma época com valores culturais bem marcados, em que a assistência e os cuidados com os doentes e idosos, eram pontos de honra. E essa situação de valorização afetiva permanece ainda hoje bem nítida no inconsciente ou no subconsciente de grande parte dos idosos. (Leme& Silva, 1991:23-26).
As influências culturais são marcantes e devem ser levadas em conta quando se procura enfocar a sexualidade da pessoa. Evidente que cada cultura entende e representa a sexualidade de forma diferente. E é importante ressaltar que vai depender também como a pessoa a vivencia desde criança. A autora Ribeiro (1991:43-50) se expressa bem, quando questiona desse modo a sexualidade, ou seja, “como era tratado o assunto (sexualidade) em sua casa, cheio de sentimentos de culpa, como pecado ou com naturalidade? Como foi construída sua identidade sexual?”.
A sexualidade da pessoa idosa deve ser encarada com naturalidade, uma vez que está circunscrita à sua vivência, não se confundindo com algo de extraordinário, nem tampouco como algo depreciativo.
Sabe-se que a libido, "força geral da vida, expressa em todos os tipos de atividades biológicas, sexuais, sociais, culturais e criativas" segundo Jung, "é uma energia vital que se encontra em todos os seres humanos sem distinção de gênero, cor, ideologia, faixa etária, e que impulsiona o viver".(1989: 44-46).
No caso do idoso, há como uma astenia sexual, ou seja, uma diminuição do vigor sexual, caracterizada pela fase de senilidade que, em relação à sexualidade, tem um declínio das suas funções após a menopausa na mulher e após o climatério no homem, quando a potência e a fertilidade diminuem. Porém, o interesse sexual continuará indefinidamente, quando estimulado. Quer dizer, o desejo sexual em qualquer pessoa, mesmo que haja um declínio com a idade, pode-se afirmar que está presente em alguma medida durante toda a sua vida.
Em relação à mulher idosa, os problemas que enfrentam com respeito à sua sexualidade, têm relação íntima com a cultura e se encontra mais visível, uma vez que datam dos primórdios da humanidade, quando sua sexualidade (mesmo da mulher jovem) sempre esteve no campo do interdito.(Chauí, 1984:55-61).
A cultura erótica tão impregnada no imaginário brasileiro contagia de tal forma a pessoa, que quem vê de for, caracteriza o país como sexual e de uma sexualidade à toda prova. Basta olhar os comerciais de TV, revistas e jornais, que sempre mostram apelação para a nudez feminina, como masculina esta, mais recentemente. Os sites da internet, onde se encontra uma profusão de erotismo que mexe com o desejo adolescente, como fala um rapaz de 15 anos, “nossa sociedade fala de sexo o tempo todo. É claro que a gente fica excitada!”, justifica. (Revista ISTOÉ: 1997).
Este será um dos pontos mais instigantes que se tentará abordar neste estudo, uma vez que bibliograficamente, se encontram alguns estudos clínicos nessa área com abordagem quase sempre, para tratamento de ansiedades apresentadas pelo idoso nesse aspecto e que procuram com medicamentos, ameniza-las. No entanto, é importante que haja outras abordagens a esse respeito, o que faz com que sob a ótica da Antropologia, o estudo adquira uma visão de relativização, quando em outras sociedades de culturas distintas, a sexualidade da pessoa idosa é vista com espontaneidade e se expressa de formas diferentes.
A razão da escolha deste tema – sexualidade da mulher da terceira idade – deve-se ao fato de que assim como os demais grupos que estão à margem da sociedade, essas pessoas também sofrem as pressões sociais que dizem respeito ao preconceito e à discriminação que envolve o segmento como um todo.
O interesse nesse aspecto se dá pelo fato de que na sociedade brasileira, a cultura erótica tão impregnada no imaginário das pessoas, contagia de tal forma as mesmas, que, quem vê de fora, caracteriza o país como sexual e de uma sexualidade à toda prova. Basta olhar os comerciais de TV, as revistas e os jornais, onde se vê constantemente a apelação para a nudez feminina como a masculina, esta mais recentemente.
Parker (1991:31-32) refere-se ao Brasil como, “o maior país católico do mundo que revela a sua veia conservadora. Por outro lado, valorizam-se a sexualidade e a transgressão da lei, da moral e do pecado”. E ele ainda comenta que, “não há explicação única para essa característica de cultuar o erotismo, mas a verdade é que o brasileiro é absolutamente fascinado pelo sexo”.
As práticas sociais de controle, proibição e permissão do sexo são antigas e datam dos primórdios da sociedade humana, porém o estudo do seu sentido, de suas causas, de suas variações no tempo e no espaço, é recente. O sentido do termo sexo passou a ser alargado, quando houve a distinção e a diferenciação entre necessidades – física, biológica, prazer – do desejo, que está ligado à imaginação e simbolização.
Essa ampliação de significados fez com que o sexo deixasse de ser encarado apenas como função da reprodução da espécie, como fonte de prazer ou desprazer (como realização ou pecado), para ser encarado como fenômeno mais global que envolve a existência humana como um todo, dando sentidos inesperados e ignorados a gestos, palavras, afetos, sonhos, erros, esquecimentos, etc.
Freud (1967:15-17) inovou na concepção da sexualidade, separando a sexualidade humana do instinto. Assim, a Psicanálise tomou da tese freudiana o conceito mais alargado da sexualidade, quando diz que ela não se confunde com o instinto sexual, porque este é fixo e pré-formado, característico de uma espécie; enquanto a sexualidade se caracteriza por grande plasticidade, invenção, tendo a ver com a história pessoal de cada um. Ela designa toda uma série de excitações e atividades presentes desde a infância. Não se confunde nem com um objeto (parceiro), nem com um objetivo (união dos órgãos genitais no coito). Ela é polivalente, ultrapassando a necessidade fisiológica, tendo a ver com a simbolização do desejo.
Inicialmente, nas culturas ocidentais, onde o cristianismo se introduziu, uma série de tabus foi incrementada de modo a orientar as pessoas em sua interação com a sociedade. Baseado nas normas estabelecidas na antiguidade clássica, onde o casamento indissolúvel foi implantado com o objetivo de controlar as sexualidades, dando maior sentimento de respeito e moralidade à relação sexual, o cristianismo foi favorecido por essa mudança de mentalidades.
Assim, durante os séculos XI e XII, a Igreja passa a interferir cada vez mais diretamente nos casamentos e na maneira como se apresentavam as relações sexuais. (Ariès:1996) Somente a partir do séc. XVIII além da Igreja, o Estado assume o papel de interventor das relações sexuais, fazendo cumprir as normas eclesiais já estabelecidas.
As relações sexuais que outrora tinham grande visibilidade (Foucault, 1988:33-37), passaram a ser controladas por força dos dispositivos de poder. A partir daí, o sexo passa a pertencer ao campo científico com a preocupação de classificar os casos de patologia física e psíquica. Essa Ciência Sexual (Idem, 1988:36) tomou emprestado o eixo da moral cristã que tem dentre as prescrições, a regra de unir os sexos opostos para um único propósito, ou seja, gerar filhos e não, prazeres sexuais. Segundo essa moral, os prazeres carnais são execrados, visto que eles mantêm o espírito prisioneiro do corpo, impedindo-o de elevar-se a Deus. (Chauí, 1984:67).
Já no início do século XX, algumas categorias foram criadas para as pessoas tais como, o homossexual, o anão e a mulher velha (que se confunde com a feiticeira), pois são considerados ofensivos à criação e culpados de serem criaturas diabólicas (Idem, 1984:69), uma vez que sua atividade sexual passa a ser classificada como doença, perversão e anormalidade.
A família, considerada como agente no processo inicial de internalização dos padrões sócio-culturais pela pessoa (Barbosa, 1990:48), ao longo de sua história sempre agiu de acordo com a ideologia dominante como resposta de controle social sobre as pessoas. Desse ângulo, pode-se afirmar que a mesma, é um importante núcleo onde se constrói as imagens e representações da sociedade em seu conjunto e, onde se faz e reproduz a ideologia esperada. (Idem, 1990:50).
Dada a importância da família como base e raiz da estrutura social, em relação à pessoa que se encontra na terceira idade, ela é um órgão de apoio e saúde. O membro idoso na família pode contribuir com os demais, pois tem uma história pessoal a ofertar ao habitat, o que representa ainda, a história da estrutura familiar como grupo social.
No entanto, com os novos valores sociais sendo constantemente veiculados pela mídia, onde a juventude é saúde, beleza e futuro, a imagem dos idosos quase sempre é descartada, quando não, isolada da engrenagem social. E às vezes, a imagem que faz de si próprio é como uma pessoa ultrapassada pelos novos tempos.
Até que ponto essa imagem vai interferir, para que a pessoa idosa tenha dificuldades em se integrar no micro-grupo social e a seguir, na sociedade inclusiva?
As influências culturais são marcantes e devem ser levadas em conta, quando se procura enfocar a sexualidade da pessoa. Evidente que cada cultura entende e repassa a sexualidade de forma diferente. E é importante ressaltar que vai depender também como a pessoa a vivencia desde criança.
Um dos valores bem sedimentados na sociedade brasileira, é que a pessoa idosa é assexuada, ou seja, uma pessoa sem vida sexual (Comfort, 1979:72-79) e, sendo expressa diferentemente, é logo caracterizada como “desvio”. Em relação à mulher idosa, quando tem interesse sexual, logo é chamada de “assanhada” (exaltada). Ela, que enfrentou e ainda enfrenta problemas em relação à sua cultura, posto que datam dos primórdios da humanidade que a sexualidade feminina sempre esteve no campo do interdito. (Chauí, 1984:94).
E, apesar das mudanças sociais ocorridas ao longo dessas últimas décadas e dentre elas, a emancipação feminina, a mulher idosa de hoje ainda se encontra presa à educação rígida e moralista que ditava que os únicos papéis sociais com decência eram o de ser mãe e esposa. Assim, é preocupante observar que, numa sociedade como a brasileira que vem passando por tantas mudanças de valores, e principalmente no que se refere ao comportamento, ainda persiste o olhar de reprovação sobre a sexualidade da idosa.
Ao longo do tempo, a mulher tem lutado por mais espaços na sociedade e vem conseguindo, prova disso é que parte das organizações populares tem como líderes, mulheres de todas as idades. No entanto, no item sexualidade, o que se vê é a continuidade de tabus que persistem em continuar, complicando a vida desse segmento que poderia obter com isso, uma melhor qualidade de vida.
A tentativa de realizar um estudo que aborde sob o ponto de vista sócio-antropológico a questão da sexualidade da mulher idosa, objetiva sobremaneira, ampliar a visão de que esse segmento pode e deve continuar a viver e não só isso, ter o direito constitucional de obter informações sobre sua sexualidade, além de conquistar espaço nos programas institucionais de prevenção às DSTs e à AIDS.
Assim, este estudo tentou descobrir se a mulher da terceira idade tem informações suficientes sobre a sua sexualidade e se com elas, as mesmas podem vivenciar um relacionamento íntimo e sexual com parceiros, sem medo ou constrangimento e sem a preocupação de sanções e discriminações sociais que porventura possam se defrontar. Além do que, buscou-se perceber como elas vivenciam atualmente a questão da AIDS e de sua prevenção.
Desse modo, empreendeu-se o levantamento do problema da pesquisa para guiar todo o trabalho, a fim de tentar responder a tal indagação.
Até que ponto as mulheres da terceira idade (jovem idosa e idosa adulta) que freqüentam a “Cais do Parto” possuem informações sobre sua sexualidade e as doenças sexualmente transmissíveis?”
Na perspectiva de penetrar as múltiplas determinações do objeto de estudo – universo da sexualidade da idosa – elegeu-se algumas categorias fundamentais para a compreensão da forma como vive esta população, ou sejam, representações da sua sexualidade, desejo sexual, relacionamento sexual, doenças sexualmente transmissíveis, AIDS e saúde sexual.
O processo de investigação esgotou todas as possibilidades possíveis de apreensão do objeto de estudo e conseqüentemente, do problema da pesquisa. Para isso, o procedimento metodológico deste trabalho foi fundamentado no estudo de caso.
A unidade de estudo foi a "Cais do Parto" (Centro Ativo de Integração do Ser), organização não governamental, instalada na cidade de Olinda/PE, que oferece orientações para diversas organizações populares. Essa organização não governamental foi fundada em 1991, com o objetivo inicial de contemporizar o trabalho das parteiras tradicionais, como referência cultural de humanização do parto e do nascimento. A "Cais" luta também, para a implantação dos direitos reprodutivos e pela democratização das relações entre homens e mulheres. Nesse sentido, a organização vem desenvolvendo alguns trabalhos junto a grupos de adolescentes e de idosos, de modo a estimular a discussão e conscientização sobre direitos de cada um.
O grupo de terceira idade atendido pela organização se constitui de mulheres que são líderes das comunidades próximas à mesma e que após as oficinas oferecidas pelo Cais do Parto, serão multiplicadoras de informações junto aos seus pares.
Em palestras realizadas para esse grupo, entendeu-se ser necessário levantar informações sobre o seu conhecimento da sexualidade e de doenças sexualmente transmissíveis e AIDS.
Assim, foram escolhidas as mulheres de terceira idade que se dispuseram em auxiliar nessa investigação, sendo em número de 28 (vinte e oito).
No entanto, no momento da coleta dos dados, foi verificado que algumas se encontravam na faixa etária de 54 a 60 anos. Uma vez mantido o conceito de idoso da Organização Mundial da Saúde, ou seja, este estágio da vida humana significa pessoas com idade a partir dos 60 anos, essas possivelmente estariam de fora do estudo. Porém, escolheu-se utilizar o conceito de um autor americano (Hazzard:1990), quando esse estágio de vida é considerado como uma vida independente, subdividida em várias faixas etárias: jovens (Young-old) de 54 a 65 anos, os adultos (middle-old) de 66 a 74 anos, os velhos (old-old) de 75 a 84 anos e os muito velhos (very-old) de 85 anos para cima.
Desse modo, o estudo considerou todas as mulheres que lá se encontravam e as dividiu pelas seguintes faixas etárias: 50 a 56 anos (2 com 54 anos, 3 com 55 anos e 2 com 56 anos), 57 a 63 anos (2 com 57 anos, 5 com 62 anos e 2 com 63 anos), 64 a 70 anos (3 com 64 anos, 1 com 65 anos, 1 com 66 anos, 2 com 68 anos, 1 com 69 anos e 1 com 70 anos) e + de 70 anos (1 com 71 anos). Portanto, segundo o conceito acima referido, o estudo presente abrangeu apenas as jovens idosas (54-65 anos) e as adultas idosas (66-74 anos).
A divisão das faixas etárias se deveu ao fato de que é compreensível que algumas mulheres na faixa de 54 anos têm aspirações e perspectivas um pouco diferentes daquelas que estão na faixa de 65 anos e assim, poderia ocorrer alguma interferência no momento que se realizasse a interpretação dos dados.
Algumas hipóteses elaboradas no início do estudo, ao término da coleta de dados foram comprovadas, de modo que se pode destacar:
Um índice significativamente baixo dentre as mulheres da terceira idade que freqüentam a Cais do Parto conhece o significado de desejo sexual;
Dentre as mulheres idosas jovens existe uma tendência maior a não dar importância à relação sexual do que dentre as mulheres idosas adultas;
Existe um número bastante expressivo tanto de mulheres idosas jovens quanto de idosas adultas, em sublimar o relacionamento sexual devido a dificuldades em encontrar parceiros;
A grande maioria das mulheres entrevistada já ouviu falar das doenças sexualmente transmissíveis, no entanto por terem pouca freqüência na atividade sexual, não se preocupam muito com a prevenção a elas;
E especificamente sobre a AIDS, as mulheres idosas jovens e adultas idosas têm uma representação simbólica de que a mesma se confunde com algo terrível, sujo e enviado por Deus para acalmar as pessoas ativas sexualmente;
A dificuldade de falar com seu ginecologista sobre a sexualidade na terceira idade é determinada pela auto-reprovação que abrange não só as idosas jovens quanto às idosas adultas.
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